terça-feira, 24 de novembro de 2009

NOS 2 AQUI A OUVIR CAIR A CHUVA


"- Dás pela chuva Henrique?
subo os olhos do jornal a acenar que sim, e ficamos a contemplar a janela onde as gotinhas escorregam, aclaradas do viés pelas lampadas do passeio. Pelo menos falámos. Pelo menos disseste
- Dás pela chuva Henrique?
pelo menos acenei que sim do jornal, pelo menos, por um momento, estivemos acompanhados. Somos pessoas discretas, incapazes de exageros, de conversas, de emoções inuteis. Julgo que foi isso que nos uniu, a timidez, a ausencia de lagrimas.Ainda Bem. Acho que ainda bem para nós.(...)
E depois existem momentos assim,a seguir ao jantar, em que principia a chover e nós aqui dentro, em paz, quase felizes.
E escrevo quase felizes porque para escrever felizes seria preciso que a chuva fosse tão forte que arrancasse o prédio do lugar e o arrastasse consigo na direcção do Tejo, o que, é evidente, não acontecerá nunca(...)
Como tu me explicaste umas coisas valem por outras e temos o consolo da chuva.Perguntar-me-ás
- Dás pela chuva Henrique?
acenarei que sim, e durante um momento somos dois, e durante um momento, palavra, podia escrever em nome de ambos, eliminando o quase, que nos sentimos felizes."

Sem comentários: